A redução de sódio — nutriente muito relacionado ao sal — em alimentos industrializados em um período de 20 anos pode evitar mais de 180 mil novos casos de hipertensão arterial e mais de 2 mil mortes por doenças cardiovasculares. A previsão é de um estudo da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a Universidade de Liverpool, no Reino Unido, publicado na revista científica BMC Medicine nesta terça-feira (28).
A análise partiu do acordo de redução voluntária de sódio firmado entre o Ministério da Saúde e a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos, que incentivou, entre 2011 e 2017, a redução de 8 a 34% da quantidade média do nutriente em alimentos processados e ultraprocessados.
O trabalho incluiu o desenvolvimento de um modelo de simulação do impacto da redução de sódio até 2032, comparando-o com um cenário no qual não há esforços para a redução. A abordagem de microssimulação previamente validada foi utilizada para criar uma população sintética próxima da realidade para a população brasileira.
A previsão foi baseada nas reduções voluntárias em alimentos industrializados registradas em pesquisas nacionais de rotulagem de 2013 e 2017, em inquéritos nacionais de saúde e consumo alimentar e em dados de sistemas de informação em saúde do SUS.
O estudo é relevante principalmente para um país como o Brasil, onde o consumo diário de sódio é aproximadamente o dobro dos dois gramas recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A pesquisa revela potenciais benefícios futuros para a saúde e a economia brasileira, se o país continuasse com as metas voluntárias de sódio estabelecidas pela primeira vez em 2011.
No entanto, quando comparada com outros países, a redução de 0,1g alcançada pelas metas voluntárias no Brasil sobre o consumo de sódio, entre 2011 e 2017, foi modesta. Por meio de estratégias de múltiplos componentes, outros países atingiram metas mais consideráveis, como Finlândia e Japão atingiram uma redução de consumo de 1,6g por dia, na Turquia 1,2g, além do Reino Unido com redução de 0,52g.
No estudo, os pesquisadores apontam que a análise sugere que a continuação das metas voluntárias pode diminuir substancialmente a carga de doenças cardiovasculares, ao mesmo tempo que oferece economias de custo consideráveis para o sistema público de saúde e para a população.
Porém, para eles, as metas voluntárias existentes para alimentos processados e ultraprocessados poderiam ser mais rigorosas. Segundo os pesquisadores, o alcance das metas recomendadas pela OMS exigirá uma estratégia abrangente mais eficaz, o que inclui uma reformulação, para promover uma redução mais significativa do sódio em todo o espectro de fontes de sódio na dieta da população brasileira.
“O consumo excessivo de sódio deve ser tratado como prioridade na agenda de saúde e a redução desse consumo tem impacto em todas as idades, independentemente de serem pessoas hipertensas ou não”, diz Eduardo Nilson, cientista responsável pela pesquisa.
Para além dos impactos positivos na saúde da população, a análise aponta que a redução de sódio é benéfica para a economia: pode poupar cerca de 220 milhões de dólares em custos em tratamento médico no Sistema Único de Saúde e mais de 70 milhões de dólares em custos informais com as doenças pela população.
“Mais casos de hipertensão e mortes podem ser evitados se o Brasil adotar políticas obrigatórias, e não apenas voluntárias, de redução de sódio em alimentos industrializados, envolvendo mais categorias e limites ainda menores. Além disso, considerando as recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira, reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados e de sal de mesa também são medidas importantes para atingir as recomendações da OMS”, comenta o cientista.
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Notícia: InfoHealth